É no verão que se aprende a poesia,
disseste; e em cada um dos verões que a vida
nos traz, em que se aprende e desaprende
o mais certo, entre o amor e a morte,
que cada um tem de saber. No quintal,
onde já não existe a romãzeira da infância,
ouvindo o vento que sobe da terra, trazendo
um antigo furor de ervas e raízes; ou
no largo aberto para o tempo que foi,
e esse que há-de vir. Abro contigo o livro
branco de todos os lugares e de todos
os nomes: o livro da poesia, aprendida
com o desfolhar dos verões, enquanto
as mães se despedem da vida, e uma baça
adolescência se confunde com a névoa
de agosto. Leio devagar, como se
interpretasse, e um fogo embarcado
nos olhos enfunasse a mais obscura
das imaginações: o verso, aprendido
no leito da memória, no verão em
que se aprende a poesia, disseste.
.......................*Nuno Júdice, Pedro, Lembrando Inês
*Escritor, poeta e ensaísta português, natural do Algarve. Formou-se em Filologia Românica na Universidade de Lisboa. Actualmente, é professor da Universidade Nova de Lisboa, onde se doutorou em 1989 com uma tese sobre Literatura Medieval. Publicou o seu primeiro livro de poesia em 1972. Recebeu os mais importantes prémios de poesia portugueses: Pen Clube em 1985, Prémio D.Dinis da Fundação Casa de Mateus em 1990 e da Associação Portuguesa de Escritores em 1994. Tem livros traduzidos em várias línguas e países. Em 2009 assumiu a direcção da revista «Colóquio-Letras» da Fundação Calouste Gulbenkian.
Sem comentários:
Enviar um comentário